VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sim, Almodóvar, as aparências enganam - mas nem tanto

Almodóvar é, sem dúvida, um dos principais diretores e roteiristas de cinema contemporâneos. O sentido, ou melhor, os sentidos dessa importância, porém, são menos fáceis de decifrar do que pode parecer a princípio. Digo isso por experiência própria: porque sempre tive Almodóvar por um grande mas, enfim, “simples” libertário da contracultura (uma contracultura pós-moderna, digamos assim), e só mais recentemente - para ser exato, a partir de Fale com ela - comecei a me perguntar por outras implicações políticas de seus filmes.

Além de Fale com ela, também o posterior Volver me deixou uma impressão estranha. Ao mesmo tempo que esses filmes transpiram, de formas, digamos, mais requintadas do que nunca, a espécie de “amor universal” (ou, talvez mais exatamente - e também nesse caso as aspas fazem parte dessa exatidão -, “maternal”) que é a espécie de compensação sublime (ou sublimizante) das costumeiras provocações almodovarianas, a violência ocupa neles lugares muito importantes para não afetar intensamente seu complexo significacional.

Que nos dois casos os atos de violência se aliem à ideia de que o amor não apenas sobrevive mas se sobrepõe a eles, e no interior deles mesmo, sem dúvida atesta o humanismo (ou “pietismo”) almodovariano: em Fale com ela, um desejo (substantivo, lembre-se, com que Almodóvar designa sua produtora) que poderia ser torpe se dignifica não só pelo amor que o envolve como pela espécie de prêmio que se concede, não ao autor, mas à vítima desse ato violento, e a um outro que, conforme a cena final, torna-se uma espécie de herdeiro de Benigno; em Volver, mesmo a violência fatal que Raimunda comete em defesa de sua filha não se desvincula de um sentimento piedoso pela vítima que é antes disso um algoz.

Entretanto, o último filme de Almodóvar, A pele que habito, coloca de forma mais explícita, no centro dessa equação de desejo, humanismo piedoso (de fundo obviamente cristão) e violência, a própria questão da necessidade da violência. Pode ser que eu tenha ficado, digamos, mais intimamente incomodado com esse filme do que eu gostaria de admitir, mas julgo pertinente sustentar que os elementos problemáticos que julgo ter visto - e que vou indicar na sequência - estão além desse incômodo, ou seja, da "desconstrução" da masculinidade e da "questão da alteridade" trabalhadas no filme, aliás de forma interessante.

Zeca e Marilia
Para não estragar a surpresa do leitor e possível futuro espectador, vou direto às minhas conclusões. A meu ver, A pele que habito transforma a ideia feita de que “há males que vêm para o bem” em algo muito mais pernicioso: na verdade, engendra a partir dela - e, talvez, permite ver nos filmes anteriores esse engendramento - toda uma ritualística de desejo e vingança (que eu tentaria analisar se conhecesse um pouco mais de psicanálise).

Senão, vejamos. Que a violência central do filme possa tomar a forma, de alguma forma, de um benefício, ou pelo menos ser compensada de alguma forma que resgate, quando menos, a possibilidade da felicidade, é algo que se pode admitir perfeitamente. Ou sugeriríamos, simplesmente, que a vítima dessa violência desistisse de viver? Mas qual a necessidade desse possível resgate se aliar a uma ritualística de vingança? 

A ideia de conquista de um “domínio interior”, de acordo com a lição de yoga na tevê, tem relação, sem dúvida, com a disciplina necessária para pôr essa ritualística em prática, mas por que o mero autodomínio não é suficiente? Porque somos todos humanos, é claro; mas qual a necessidade de premiar esse gesto - cuja dimensão “amorosa” só incide sobre a imagem ou a ideia, digamos, narcísica do que já não se é mais -, ou de torná-lo como que a condição daquele possível resgate?

E é esse “possível”, para mim, o elemento mais sintomático de que algo, aí, foi longe demais. Porque é perfeitamente clara, para o espectador, a possibilidade de que uma felicidade antes impossível, ou quase isso, se consume no final. E, no entanto, nesse filme tão cheio, a partir de certa altura, de lances previsíveis, Almodóvar evita explicitar essa sugestão. E por que faria isso, senão porque é muito acintosa a moral implícita nessa ritualística toda - a saber, a de que violência gera violência e também felicidade? O que, no fim das contas, compensa em alguma medida aquela “primeira” violência (a cirúrgica), senão toda a cadeia de violências em que, na verdade, ela se insere. Como em Fale com ela e Volver.

Robert e Vera
Claro, pode-se sempre sustentar que a violência, aqui, é toda simbólica, e que é justamente a isso - a essa violência “necessária” - que se presta a arte séria. Mas acho que é justamente a seriedade estética (ou seja, ético-conceitual, não moralista) de Almodóvar que se mostra aqui pouco convincente. Para além das costumeiras maluquices almodovarianas, certas inconsistências do enredo de A pele... parecem, um pouco como atos falhos, indiciar isso. Como é possível, por exemplo, que a Marilia (a “empregada”), conhecendo Seca (o “tigre”) tão bem como conhecia, não tenha desligado o monitor na primeira oportunidade? E o episódio da revelação ao colega de Robert, quase no final, não é uma ingenuidade muito grande, e comprometedora, para quem planeja fazer o que realmente termina fazendo?

Fiquei com a impressão muito forte de que em A pele... se opera uma espécie de substituição formal, ou melhor, formal-ritualística; de que seu verdadeiro tema central é a guerra fratricida, sua breve (um pouco breve demais) reescritura de Caim e Abel ou Esaú e Jacó. E nesse sentido é sintomático que as entranhas maternas, lugar de gestação de uma cultura homicida e hipócrita (nem é preciso pedir para repararem no crucifixo), deem lugar a um tipo de gestação diferente, com todas as implicações bioéticas tematizadas no filme, mas de certa forma melhor sucedida. Porque a ninguém mais se abre, ali, a promessa de uma felicidade possível. 

Enfim, minha impressão final é a de que nesse filme Almodóvar descambou – não vou dizer “de vez” porque isso implicaria numa avaliação mais ampla de uma obra sem dúvida importante e valiosa, que contém filmes belíssimos como Tudo sobre minha mãe e o próprio Volver (de Fale com ela gosto cada vez menos). Descambou não só para a apelação mercadológica como para a má-fé estético-ideológica. Se Fale com ela e Volver vivem na tensão do humanismo e da violência em torno do desejo, e este na tensão com o mero fetichismo, em A pele que habito Almodóvar estreita o vínculo entre violência e fetichismo - e seu próprio conluio com esse vínculo. 

Vicente
Mas nem por isso deixa de ser um grande diretor, e tanto o incômodo literalmente fisiológico quanto a empatia que os personagens desse filme nos provocam atestam isso. Mas Leni Riefenstahl também era uma grande cineasta, e saí da sessão com a forte impressão de que Almodóvar tem um apreço especial por seus filmes. Mas talvez eu esteja errado; aliás, tomara que esteja - e se alguém for dessa opinião, por favor, me diga.


Atenção: os comentários ao post revelam detalhes do enredo do filme.

12 comentários:

  1. Travei por e-mail ese pequeno mas produtivo diálogo com Lucilene Soares da Costa; ela me escreveu:

    Pela complexidade da questão, seria muito interessante uma leitura psicanalitica desse filme.

    Nao sei se concordo com a ligação entre violencia e felicidade. A forma do corpo feminino seria um desejo latente do personagem?

    Embora outras pessoas questionem a masculidade de Vicente (como a vendedora lésbica), ele nao se identifica à sua nova sexualidade.

    O mesmo desconforto por q passa o espectador durante o filme.

    E eu respondi:

    Oi, Lucilene. Concordo com vc quanto à não-identificação de Vicente com o corpo feminino. Mas a questão da felicidade possível é que é inevitável para o espectador (masculino, pelo menos, ou seja, o que tende a partilhar do desejo de Vicente) sair pensando que finalmente ele pode ter uma chance com a empregada da loja (Cristina), de quem parece gostar bastante. Isso não é sequer sugerido, mas justamente essa não-sugestão eu acho muito significativa, uma espécie de denegação.

    Meu abraço e meu obrigado à Lucilene.

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  2. Quero apresentar mais um argumento a respeito da questão da felicidade possível (em si mesma, a meu ver, perfeitamente legítima e até verossímil - é todo o rito narativo em que ela se erigie que eu vejo como problemático). Vicente (Vera), quando finalmente foge da clínica de Robert, sai vestido(a) de mulher; não tenta disfaçar sua "nova condição" de nenhuma forma, nem mesmo em respeito à essência masculina que, pelo que entendi, a yoga o(a) ajudou a preservar. Parece que todo esse processo inclui, então, um tipo de aceitação, mesmo que incompleta, da nova situação, algo como aceitar a condição feminina mas não a heterossexualidade femininina (enfim, ele/ela seria "lésbica"... - lésbico?, rs). Acho que a questão da roupa (a mesma com que Vicente queria ver Cristina) reforça essa possibilidade. É claro eu trabalho com um campo de impressões e sugestões, mas penso que o objetivo de Almodóvar foi justamente ativar esse campo.

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  3. Ainda quero acrescentar algo sobre o elogio da violência nos filmes de Almodóvar. Tanto em A peleque habito quanto em Volver há sugestões de que determinadas atrocidades serão cometidas, sem que cheguem a se realizar: em Volver, que Raimunda use o corpo do marido no restaurante (aliás, Volver, com seus moinhos e ventos enlouquecedores, é também uma espécie de elogio de um quixotismo pragmático, para não dizer neoliberal), em A pele..., que Vera/Vicente decepe o pênis de Robert (a sugestão é explícita, quando pensamos que ele/ela colocará o preservativo no cirurgião, preparando-se para retirá-lo - ou algo pior - da bolsa). Mas Raimunda enterra o marido com laivos piedosos, e Vera "apenas" mata Robert, atos atenuados por aquelas atrocidades não realizadas.

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  4. Acho que devo, por questão de justiça, publicar esse texto, que encontrei quase por acaso, em http://cronicadelirio.blogspot.com/2010/06/almodovar-interpreta-vitima-do.html:

    Almodóvar interpreta vítima do franquismo em curta metragem

    Desta vez diante da câmera. O cineasta espanhol Pedro Almodóvar trocou de posição no cinema para interpretar o papel de uma vítima da ditadura franquista no curta metragem Cultura contra a Impunidade. O filme relata em 15 depoimentos o drama de assassinados cujas famílias esperam justiça até hoje.
    Almodóvar lidera um time de 15 artistas espanhóis que inclui outro vencedor de um Oscar, Javier Bardem, interpretando histórias reais em primeira pessoa de vítimas assassinadas entre os anos 30 e 50.
    O curta da diretora Azucena Rodriguez foi feito de forma altruísta por toda a equipe. Atores, diretores, produtores e técnicos colaboraram de maneira gratuita.
    O objetivo é conscientizar a população sobre a situação das famílias das vítimas da ditadura militar. Muitas delas ainda em busca de parentes desaparecidos, enterrados em fossas comuns e cujos corpos nem sequer foram localizados e identificados para que os descendentes pudessem sepultá-los.
    O filme foi apresentado em Madri na segunda-feira pela Associação para a Recuperação da Memória Histórica, ONG que recolhe informações sobre os desaparecidos e auxilia as famílias em trâmites legais para o reconhecimento de seus direitos.
    Depoimentos
    O curta consta de 15 relatos de 40 segundos cada um. Pedro Almodóvar interpreta o aviador Virgilio Leret Ruiz, primeiro militar assassinado no golpe de 1936, pouco antes do início da Guerra Civil espanhola.
    Ruiz foi morto por não aceitar o golpe militar e fuzilado por seus companheiros de quartel sem direito a defesa. Seu corpo desapareceu e seus descendentes ainda procuram o paradeiro do cadáver.
    Almodóvar, que não participou da apresentação do curta por estar produzindo o seu próximo filme, deixou um depoimento em que disse que "a Espanha tem uma dívida moral com as milhares de famílias das vítimas".

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  5. Daniela Portela me enviou um e-mail com um comentário sobre A pele que habito. Penso que Dani percebeu coisas semelhantes às que apontei, mas as questões que ela coloca conferem um sentido positivo ao filme. Acho esse viés perfeitamente válido: seria o caso de sopesar ganhos e perdas. Com o detalhe, porém, de que a "adequação discursiva" de Vera/Vicente esconde um "fundo" de inadequação, parcial que seja. Enfim, há algo para além da simulação. E Vicente não violenta a filha de Robert. Doidão, ele acha que ela está tão doida quanto ele. Quanto à questão moral (ou não) da violência, penso que é uma questão que rende pano pra manga.

    O que acho interessante no filme de Almodóvar é a estetização da violência. A violência perde seu caráter potencial e se torna uma "produção de presença", um corpo que literalmente ocupa o lugar de outro e que passa a produzir uma série de encenações do que se pode fazer a partir daí. A opção pelo sarcasmo, na ridicularização daquilo que seriam os pequenos dramas de uma sociedade psicoligizada fica evidente na forma prática como Vera resolve os pequenos entraves que envolvem a relação dela com Roberto. Lembre da cena em que ela justifica a busca do lubrificante, ou a cena em que responde há quanto tempo usa o pênis artificial para dar forma ao novo sexo. Não há um “eu” que se exprime dramaticamente. Há uma adequação discursiva ao novo corpo que lhe foi impingido. Com uma naturalidade que desconcerta. É um balde de água fria nas histéricas depressivas tão em moda na sociedade contemporânea. Aliás, o que é a potência pra além do poder de tomar o lugar do outro. Não foi isso que Vicente fez ao violentar a filha de Roberto? Parece que a Violência, como conceito, é uma questão de potência e não de moral.

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  6. Olá, Ravel.
    Sua leitura é mais complexa que a minha.
    Depois que postei a crítica no Claque ou Claquete, saí a ler as matérias alheias.
    Abri várias páginas e, infelizmente,
    me perdi ao não salvar o nome e o endereço
    de uma autora que fez um comentário mordaz,
    ferino, sobre o crime e o castigo em A Pele Que Habito.
    Ela dizia (ironicamente)algo como: ser mulher é um fardo tão grande que a pena imputada a um criminoso é transformá-lo em uma.
    Para se pensar!

    Abs.

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  7. Oi, Joba! Fiquei curioso em ler esse texto. Vou procurá-lo, e se achar lhe mando o link. Gostei de seu texto, também, sobre Operação Presente. Vimos o final de forma semelhante.
    Grande abraço!
    (O blog do Joba é o claqueouclaquete.blogspot.com, muito bom)

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Me ocorreu um dia desses que minha leitura do filme pode estar errada, ou pelo menos pode ser refeita por um outro viés. Se o que ocorre com Vicente é terrível, é possível ver seu rito de vingança como uma pré-condição “legítima” para o aceno à felicidade que eu entrevi no final. E isso não exatamente de uma forma conciliatória, como denuncia o tremor na voz com que ele se dá a conhecer na última fala do filme.

    Robert, de fato, se afigura um pouco como um Benigno maligno, pois sua “intervenção” no corpo alheio é muito mais radical que a daquele, e também porque é sobre um corpo consciente que ele atua. A vingança de Vicente seria, então, um tributo realista à problemática da violência, o que não há em Fale com ela, mas sim uma espécie de estrutura trágica invertida, benéfica (pois a espécie de herança do amor de Benigno por Marco redime tudo).

    Uma questão, no entanto, permanece: qual a necessidade de construir essa “legitimidade”? Não é, como em Fale com ela e outros filmes, a de sugerir que a única parteira para a felicidade é um tipo de violência extrema, sempre ligada a um doloroso tipo de “renascimento”? Pode haver algo de bonito, ou até “messiânico”, nessa sugestão, mas nem por isso ela me parece menos problemática, ainda mais em vista, nos dois casos, da REVELIA com que essa violência se realiza em relação à vontade de suas, digamos, vítimas-beneficiárias, ou seja, Vicente e a moça (em Fale com ela). Bem, é isso que as constitui enquanto violências, mas aí fica a pergunta: então o caminho da felicidade é mais a violência que a liberdade?...

    Seria preciso pensar cada caso, mas pelo visto a própria liberdade de produzir a violência (se isso não fere o conceito de liberdade, numa perspectiva que leve em conta, como deve levar necessariamente, a alteridade) não predispõe tanto à felicidade quanto a "sorte" de sofrê-la (e, se for o caso, retribuí-la...). Enfim, são questões.

    Finalmente, uma correção: os "moinhos" de Volver não são moinhos (mas parecem), e sim turbinas de energia eólica (aerogeradores), ou seja, moinhos mais modernos.

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  10. Olá, Ravel.
    Rapaz, A Pele Que Habito realmente mexeu com você, hein?

    Está indo além dos signos e aprofundando a leitura nas entrelinhas do leitmotiv.
    Bacana!

    Se puder dê uma olhada na matéria do psicanalista Contardo Calligaris em:

    http://sergyovitro.blogspot.com/2011/12/contardo-calligaris-pele-que-habito-e.html

    Não se vai afrouxar ou dar um nó na sua tese!

    Abs.

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  11. Oi, Joba!

    Pois é, logo eu, que, parodiando o Vinícius, sempre brinquei (mas sempre um pouco a sério) que queria ser mulher apenas para ser lésbica... Mas o que me incomoda mais é isso, de ter achado realmente estranho e problemático um filme de um cineasta que sempre admirei, me levando inclusive a revisar minha leitura de outros filmes. É verdade que essa percepção (correta ou não) foi progressiva, como eu deixei claro, desde Fale com ela, mas A pele é realmente um caso extremo.

    Mas, enfim, obrigado pela indicação! Acho que concordo com a leitura do Calligaris, inclusive no que diz respeito à ambivalência. Mas, é verdade, só nessa última leitura, em meu comentário anterior, dei a devida ênfase ao realismo. A comparação com My fair Lady é muito sugestiva! Agora, penso que o Calligaris podia ter se aventurado numa análise psicanalítica mais profunda. E um detalhe: essa ideia, de ser mulher para ser lésbica (ou não: vai saber!), acho que não é mesmo só brincadeira, mas a de passar por isso que o Vicente passou me parece impensável!

    Obrigado pela visita! É bom saber que este post tem pelo menos um leitor e interlocutor.

    Grande abraço!

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  12. Convidei meu amigo Ewerton Freitas para ler esse post e ele respondeu o seguinte, via Facebook:

    Uai, Ravel, eu não consegui discordar das suas ideias sobre A pele..., embora não acredite que haja, nesse filme, uma radicalização do fetichismo almodovariano. Penso em A lei do desejo e em Kika por exemplo, em que amor/violência/fetiche parecem conviver desde o início da produção do cineasta. Apenas acho que, em A pele, esse fetiche deixa de se centrar numa ótica hetero ou homossexualizada para se inserir entre formas sexuais híbridas, móveis, transmutantes, no que se configura como algo bem pós-moderno. Acho que o médico Frankstein de A pele se deixa trair pelo seu próprio desejo, pela sua própria neurose: ele se deixa dominar por aquilo sobre o que exercia domínio, ele se deixa destruir por aquilo que destruiu, e isso acontece no momento em que (serei grosseiro!!!) deixa a cabeça de baixo sobrepor-se à de cima.

    Quando eu afirmei que "pau que nasce torto morre torto", referi-me a questões como: 1) Vicente nunca deixou de ser Vicente, tanto que não gostou de ser penetrado (pra um gay passivo, isso teria sido o máximo!) e, implicitamente, poderá ficar com a mulher de quem sempre gostou; 2) o médico Frankstein, mais uma vez, se deixa levar pelo seu "dedo sentimental podre", apenas com o diferencial de que, ao invés de um par de chifres, dessa vez ganha um balaço no peito;
    mas estou apenas divagando... divagando...

    Como eu (Ravel) disse pro Ewerton, acho que a leitura dele coloca questões interessantes. Na verdade, acho que esse filme rende muito pano pra manga. Não é à toa que este texto é o segundo post mais visitado do blog (o primeiro é a crítica do disco dos Strokes).

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