VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Pequenos" fundamentalismos

A notícia recente do massacre de oito torcedores do Palmeiras que comemoravam a conquista da última Copa do Brasil não parece ter causado grande comoção. Talvez porque fatos semelhantes já se tornaram corriqueiros, mas talvez, também, porque os palmeirenses não representam, afinal de contas, uma parcela tão grande da população, e nossos critérios de empatia e solidariedade estejam ficando cada vez mais exigentes...

Seja como for, eu não posso deixar de registrar o quão assustador me parece isso tudo. O tipo de ódio e ressentimento - social, cultural, familiar e o escambau - que move ações desse tipo me parece um sintoma francamente terminal, e de o quão profundamente a neurose-necrose do capitalismo já se instalou entre nós.

Há alguns anos era comum se dizer que no Brasil não existia terrorismo; acho que ninguém mais pode dizer isso em sã consciência: o caso citado é um típico exemplo de terror fundamentalista, de ação extrema de um tipo de mentalidade segregacionista. E o fato de as atitudes fundamentalistas entre nós não terem, necessariamente, motivos religiosos (apesar do caso terrível de Realengo) não me parece nada consolador. Pelo contrário, parece-me um sintoma de que são, muitas vezes, os "bem formados" (ou pelo menos que assim se julgam) os fundamentalistas.

Ainda ontem, lendo sobre a saída de Rodolfo Abrantes dos Raimundos e depois do Rodox (o que na época não me interessou), eu achei um vídeo dessa segunda banda, com um comentário no qual um evangélico se queixava pelos antigos fãs condenarem Rodolfo "apenas por ter deixado uma banda" (é claro que não foi só isso), e dizendo que na igreja dele, comentarista, não havia pessoas tão intolerantes quanto aqueles descolados roqueiros.

E, de fato, outro dia, num show de rock (era uma, digamos, metal cover night), um rapaz de classe média me dizia que "só os roqueiros são inteligentes". Eu lhe disse algo sobre a filosofia do samba que o deixou meio incrédulo. Ainda bem que, apesar de tudo, os jovens de hoje são mais abertos, e ele até se permitiu um "Será?". E foi lá, bater cabeça.

E decerto que há coisas mais graves por aí. Não vou remeter às intolerâncias de pais conservadores com filhos "largados" (nem de filhos "inteligentes" com pais simples), nem às opiniões corriqueiras da Veja e da Época, porque, como diria Raulzito, "é tudo gente fina", mas acho que esse é um tópico de reflexão para cada um de nós; inclusive eu, que já bati muito a cabeça por aí.

No mais, é como dizia o poeta: "nada demais"... "E só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção".

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