Mas
também prestei mais atenção ao final, para a beleza do reencontro de Raul com
um Paulo Coelho no auge da fama de “escritor” promovida por Marcelo Nova, para
as palavras de Caetano em defesa do mesmo Nova (e as que encerram o filme:
“Raul, as pessoas não morrem”), enfim, para o espírito conciliatório com que
esse final é conduzido, em consonância, mesmo, com a relativa tranquilidade que
parece ter marcado a própria morte de Raul.
Saí
dessa segunda sessão com autoestima elevada, beirando a arrogância (o que me
obriguei a tentar corrigir), mais tocado pela beleza e pela força de Raul, sua
música e mesmo a complexa mas afinal bonita teia de relações à sua volta.
Pena
que muito poucas pessoas, aqui em Campo Grande, tenham visto o filme, que saiu
de cartaz ontem mesmo. O que seria compreensível levando em conta o perfil
crescentemente evangélico da população da cidade, mas que, por outro lado,
destoa um pouco da “cena roqueira” de que a cidade se orgulha. É que quem ouve
– e toca, às vezes bem – rock inglês
julga Raul superado. Eu, embora tenha vivido minha adolescência nos anos 80,
nunca entendi isso. Quer dizer, entendi mas nunca aceitei, e talvez por isso
respeite tanto o Marcelo Nova, mesmo gostando bem menos, hoje, de suas canções.
A
propósito, meu colega e amigo Paulo Edir sugeriu que “Lena”, do Camisa de
Vênus, pode ter alguma relação com Lena Coutinho, a última companheira,
digamos, quase oficial (porque o filme também sugere... ora bolas, vejam o
filme!) de Raul. Não sei se essa relação é possível, mas, em todo caso, o próprio Raul compôs uma “Lena”.
Seja como for, “Lena” é uma das belas canções do disco Batalhões de estranhos, que eu já tive a
honra de possuir, e autografado pelo próprio Nova ao final do mesmo show em que
eu comprei o disco (e o Viva!, com a
mais sórdida “Sílvia”), de um cara que queria comprar o então novo CD do
ex-vocalista do Camisa. Como eu também queria esse CD mas havia ficado quase
sem dinheiro, pedi um desconto ao próprio Nova, e consegui. Três pechinchas e
três autógrafos (todos perdidos, agora): glórias bobas de tiete... Mas tudo
bem, no fundo até Raul foi tiete, mesmo à distância – de Elvis, é claro.
Então
fica aí, à guisa de aperitivo, a bela “Lena”, com sua bela letra, sua bela
melodia e seu refrão sofrível e cheio de gás... E também a “Lena” do próprio Raul, que eu acabei de descobrir. E pra quem acha Marcelo Nova e
o Camisa de Vênus muito misóginos, deixo também a mais sublime “Deusa da minha
cama”, do também excelente Duplo sentido;
o mesmo álbum duplo, aliás, que contém a primeira parceria de Raul com o Camisa
e Marcelo, “Muita estrela, pouca constelação”, que também fica aí, digamos, à
guisa de sobremesa, e em homenagem não aos english
rockers bigfieldenses, mas a meus “velhos” amigos de Corumbá Lúcio e
Nandinho, que um dia brilharam cantando essa canção em plena Avenida General
Rondon – um encarnando o Nova e o outro Raul. Não lembro se o saudoso Siqueira
(ou Cerqueira) ainda estava na batera. Mas, enfim... toca Camisa!!! E toca Raul!!!!!!
E já que alguém falou em Cachoeira, pobre topônimo ofendido, eu fico mesmo é com a “Água viva” de Raul (e don Paulete), com erro de concordância e tudo.
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