Há tanto tempo que eu abandonei isso aqui às traças que, se elas
quisessem, poderiam me expulsar alegando usucapião. Em todo caso, não vou me
preocupar em expulsá-las. Se elas ocuparam os espaços deixados vagos por tantos
assuntos que eu deveria ter abordado aqui se fosse fiel aos compromissos
assumidos comigo mesmo, que fiquem onde estão – provavelmente, aliás, vão se
reproduzir e espalhar por outros espaços, porque eu não nunca pretendi e muito
menos pretendo agora ocupar todos. Mesmo assim, se quero o benefício de um
leitor que seja, acho que preciso fazer meu mea culpa. Porque se eu posso
dividir a responsabilidade desse sumiço com algo, é com o meu atordoamento, já
que o deprimente processo eleitoral do ano passado e, sobretudo, a insensatez
discursiva que o acompanhou e ainda se sucede a ele me tornaram um bocado
cético quanto ao papel da internet como espaço de cultivo de uma consciência
crítica ou benéfica em qualquer sentido.
Mas claro que isso é uma grande injustiça. A internet é parte de um tipo de “expansão da consciência” que pode não ser a coisa mágica dos esotéricos mas que certamente existe. É preciso, no entanto, escolher os espaços; e o fato é que o espaço público e discursivo a que mais me dediquei nos últimos anos simplesmente não me serve. Não vou negar sua importância, mas a mim ele não serve. Tenho a impressão de que o Facebook (acho que as maiúsculas soam mais saudavelmente impertinentes que as minúsculas, constitutivas da própria marca) tem como grande resultado esvaziar as pulsões íntimas mais fortes que conduzem um sujeito à escrita, assimilando-as a esquemas simplificadores e levianos. Por mais séria que seja uma postagem, a procupação com os julgamentos alheios quase sempre predomina, e estabelece o primado dos mecanismos de conveniência ou exibicionismo. Claro que para muitos isso é parte de processos de sociabilidade e desrecalque decerto importantes, mas de minha parte estou saco cheio disso: não só de ser conivente como de me sentir praticando isso.
Este blog miserável, por menos leitores que tenha (e acho que eu consegui perder os poucos que tinha), ainda é um espaço no qual me sinto à vontade de uma forma mais efetiva para dizer o que efetivamente penso e sinto, e no qual posso tratar com um pouco mais de vagar de questões que eu acho que merecem isso.
Mas, enfim, por enquanto é isso: só pra dizer que os arquivos críticos (sim senhor, com o benefício das minúsculas) estão de volta. Não esperem grande coisa, aliás, não esperem nada. Não porque saber esperar não seja uma virtude nesses dias em que as sombras voltam a se adensar ante o fim de mais uma ilusão prolongada (cujo início não data dos governos Lula, e sim da neoliberalização do Brasil), mas porque a experiência comprova que isto aqui não merece o crédito exigido pelas grandes promessas. Isto aqui é no máximo como a sopa ralada de Jards & Wally – é uma forma também, afinal, de voltar àquela grande merda líquida, como a definiu um amigo. Com a diferença de que, graças aos deuses, nesta aqui ninguém precisa curtir porra nenhuma.
Depois de ler me senti culpado por ter curtido antes. Ponto pro Ravel. Bom te ver! Aqui, Gustavo.
ResponderExcluirAhá! Tá me devendo uma cerveja, Gugu.
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