VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Duas lições inseteístas



Para Luciano Alonso,
Jânder Baltazar Rodigues
e Irwing dos Teclados.

Inocência


Entomologia,
minha grande paixão desesperada.
(Desesperada
em sentido etimológico:
que desistiu de esperar por mim.)
Amo tanto os insetos
que tenho a secreta esperança
de que Deus seja um:
não uma barata, pois já matei muitas,
mas quem sabe um grilo, ou,
de preferência,
uma formiga.
Dessas,
a única que torturei até a morte
foi com a mesma inocência
(conforme está escrito)
com que os eleitos O pregaram na cruz.

 


Ponderação


Essa fruta tem um dono
– e vou respeitá-lo.
Em primeiro lugar,
porque talvez ele seja inocente,
e nunca tenha pensado, por exemplo,
que a propriedade é uma grande
e um tanto quanto perigosa
piada.
Mas também porque,
ao contrário do que geralmente se pensa,
talvez ele pense.
E pense, por exemplo, que eu sou um deus.
E nada pior do que um deus
que mata e fere
(e humilha,
julga, subjuga
e segrega)
seus semelhantes.

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