Queria ter escrito
sobre a banda Dimitri Pellz há quase três anos, quando a vi pela segunda
e, até ontem, última vez, no Fogo do Cerrado de 2010. O tempo passou, o impacto
se diluiu no sangue e eu fiquei aguardando outra chance, desalentado com o
boato de que a – em minha modesta mas convicta opinião – melhor banda de rock do
Brasil havia acabado. Mas o boato era falso: Dimitri vive, e, mesmo ligeiramente
fora de forma, fez ontem, aliás, hoje, outra apresentação memorável no já
histórico BarFly.
Sempre que vejo a banda
de Maíra Espíndola e Jean Albernaz (os demais não são meros acessórios, mas
giram em torno deles) se apresentar, fico dividido entre a entrega ao som massacrante
– um psychoprogpunk ao mesmo tempo experimental e visceral –, principalmente
aos tambores exatos e furiosos de Jean, Boham redivivo, latinizado e
africanizado (mas há também a fusion baixo-guitarra-tecladística:
potente, psicodélica e meio espacial-progressiva), e a atenção às letras e “performances” não menos arrasadoras de Maíra.
Arrasadoras é pouco:
as “performances” de Maíra, seu strip
acintoso, seus discursos ácidos e enfezados, cantados ou não, são verdadeiras
esquizoanálises, catarses apocalípticas que expõem em carne viva a falsidade, a
mediocridade e o comodismo de todos nós. A ovelha negra da “família-música” do
Mato Morto não é só o avesso dos Espíndola, mas um cuspe na cara maquiada e ostentosa
da cidade dita Morena, ou melhor, das grandes e universais mentiras humanas que
nela se espojam. Não é à toa que desperta a crassa estupidez de alguns,
provavelmente zelosos de algo de que no fundo duvidam.
Jean "Bohan" Albernaz |
Enfim, Dimitri vive
– e que seja eterno enquanto viva. Para
além disso já é.
Pra quem não conhece, um registro incendiário:
Pra quem não conhece, um registro incendiário:
Essa madrugada de 6
para 7 de setembro, mas já em plena data “libertária” (que, aliás, Maíra fez
questão de “celebrar”), ainda teve como fecho outra big band bigfieldense: a Gopstopper,
com suas letras e melodias belíssimas mas sem enfeites, exigentes de uma
atenção que também nesse caso, como em todo bom rock, conflita com o som
vibrante: a bateria firme de Leco, o baixão solante de Marcel Ribeiro e a voz grave,
falada-cantada, de Elizeu Nico. O desafio de unir potência e beleza; potência
sem brutalidade, certa gravidade
oitentista (mas também, sem dúvida, loshermanística): é que me passa o som dos
Gobstoppers.
A banda que abriu a
noite, e que eu vi pela primeira vez em formação completa, alcançou algo
parecido em seus melhores momentos, por exemplo na versão metalizada de
“Tutti Frutti”, de Little Richard. Faltou o Steppenwolf, que eu queria ouvir a Maíra gritando
junto: BORN TO BE WI-I-I-IIILD...
Falando em gritar, enquanto eu começo
esse texto provavelmente ocorre o Grito dos Excluídos no desfile de 7 de setembro. Não estou lá, mas estou com
eles.
EEEEEEEEE, Ravel!!!!!
ResponderExcluirQue posso dizer de seu texto, prolongamento semântico do Dimitri Pellz, conclusões assustadas e explosivas a um só tempo!
Sobre Maíra, ela é Maíra de Darci Ribeiro, um demiurgo arroto de Deus! Tomando para mim o discurso dela, "a mais anarquicamente feminina presença em minha vida"!
Quanto ao Jean, músico de alma, um performer impressionante no palco e um intelectual de pensamento sofisticado.
Lido e lindo seu texto!
Bjos, Lu Tanno.
P.S.: Meu contato é o 9979 0113/ 9245 7324, vamos marcar algo para que eu leve seu livro.
MUITO BOM
ResponderExcluirMuito obrigado Lu! E quero muito ler seu livro, é claro! Vamos ver a gente consegue se ver nesta semana corrida...
ResponderExcluirE obrigado, Anônimo... Os melhores elogios são os elogios anônimos. (Juro que não fui eu!)