VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O horror vive

Ainda é cedo para se pensar no que houve - aliás ainda há.
Por enquanto, apenas o que se sabe, novamente
(impondo-se à consciência arrefecida dos horrores de todos os dias, inclusive aqueles impetrados pelas "forças legalmente constituídas"),
é que o horror vive.

(e disso saberemos, quem sabe, até que outras notícias nos tornem banais os rostos que serão estampados, como os de tantos horrores recentes da tragédia brasil)

E agora não há sequer o consolo dos clamores de vingança...
Apenas isto:
o horror vive.

(no meu rio de desesperos, em 07/04/2011)

(que ao menos o esquecimento - ou, quiçá, algo melhor que isto - seja pleno,
e lave tantas tantas almas tão feridas)

10 comentários:

  1. Ravel: Breton previu esses ataques, dizendo que o supremo ato surrealista é alguém sair atirando a esmo na multidão. E Bunuel filmou.

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  2. ainda é cedo para pensar no que houve
    porém tarde de mais para se refletir sobre o caos existencial, à consciência arrefecida dos horrores de todos os dias, possibilita a permanência do horror corrompendo com a incolumidade da cotidianidade, que hoje alimenta-se do arrefecimento para se manter viva
    porque de outro modo as ideologias dominantes esfacelariam-se dia após dia.

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  3. Sim, meu irmão Lúcio, é verdade, tudo isso é muito surrealista. Mas também foi surrealista aquele manifestante, no massacre que liquidou com a Primavera de Praga, oferecer o peito para um tanque de guerra que aliás o destroçou. Não procuro, não quero procurar um correspondente para isso nesse outro evento cujos detalhes que conhecemos tornam de certa forma ainda mais sombrio; foi apenas uma imagem que me veio. Algo vagamente ligado à ideia de esperança em tempos como estes. Uma imagem, em todo caso que de alguma forma é preciso termos sempre em mente, não como indução a uma disposição autossacrificialista, mas como algo a que será preciso sempre, ainda que "pelo menos por enquanto", prestar tributo; como ao sacrifício de Cristo e o dessas crianças, todas elas.

    E sim, mano Richard, são as ideologias dominantes, todas elas, inclusive as que predominam em maiores ou menores nichos (a Líbia de Khadafi é um deles, os departamentos universitários são outros) que vão ruindo todos os dias.

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  4. Oi, Ravel. Como estava falando com um amigo, Rodrigo, o marxismo militante, em geral leninista-stalinista, não se interessa pela crítica marxista da Escola de Frankfurt. E Frankfurt retorna a Marx, mas aproxima Hitler e Stálin, que para mim é lisonjear o primeiro e dá um passo para reabilitá-lo.

    A Primavera de Praga é um drama em todos os sentidos, mas hoje em dia há algo próximo de um consenso de que a transformação, ali, era social-democrata, com instalação de aparato de democracia liberal européia mantendo a economia coletivizada.

    E o triste é que, justamente quando Foucault proclama que o homem é uma face na areia na beira do mar, os thecos, que hoje estão com tropas no Afeganistão, começam a falar em socialismo de face humana...

    Abs!

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  5. Oi, Lúcio!
    Bem, não consigo mais ver algo de produtivo numa “linha de pensamento” como o leninismo-stalinismo. Nem os textos do Lukács da fase stalinista consigo mais ler, tão tacanhas (desculpe-me o Rodrigo) são as posições; da velha-guarda bolchevista, acho que só o que escapa é o Trotsky Mesmo assim, concordo em parte, não inteiramente, com o que vc diz sobre a aproximação entre Hitler e Stálin. É verdade, são coisas diferentes. Stálin praticou o terror em prol de "objetivos", queria Deus, pelo bem da alma dele, que de algo mais que seu doentio culto a si mesmo. O nazismo foi algo como um culto do terror. A questão da imagem da Primavera de Praga (do que, é verdade, posso ter uma visão romantizada) não tem tanto a ver com o que ela foi objetiva ou propositivamente, mas com a esperança em algo que se queria que fosse e a resistência a algo que não se queria, ou melhor, a sustentação "surrealista" dessa esperança em contexto tão dramático. Agora, com o perdão do golpe frontal (baixo, talvez), ainda acho meio sinistras essas generalizações, digamos, geográficas. Quem, diabos, são "os tchecos"? Os que viveram a Primavera, os que a combateram ou a traíram, os que estão no Afeganistão, os que têm irmãos afegãos?...
    Grande abraço, novo mano velho!
    Ravel

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  6. Ravel: eu recuso o conceito de totalitarismo da Hannah Arendt e de considerações como a do Habermas sobre um fascismo de esquerda. Para mim são conceitos e definições chacrinianas, vieram para colaborar com a confusão ideológica e do nosso tempo e não para explicar.

    Essa linha de pensamento é a que mais provoca discussão e, acho que devemos discutir um pouco antes de sermos assassinados pelos alunos ou presenciarmos, medusados, a morte deles em chacinas.

    Em vida, Stálin cumpriu, aliás, os objetivos: transformou o país em potência e derrotou Hitler. As relação entre a pessoa bem sucedida e o sucesso não é de agora, há muita gente que crê que o sucesso é contagioso ou que se deve render culto a ele.

    Abs!

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  7. Salve, Lúcio!

    Obrigado por topar a discussão!... Creio que nossos leitores silenciosos (que, pelas estatísticas, não são poucos) também agradecem.

    Bem, sinceramente, não sei se a palavra “totalitarismo” (ou ainda “genocídio”) serve para designar as ações de Stálin, mas autoritarismo, repressão, violência efetiva e simbólica e muitas outras, algumas bem piores, com certeza.

    E não vejo mais muito mérito nos objetivos e nas conquistas de Stálin (o que não significa uma recusa completa do que foi o "socialismo real"). E olha que já vi: me gabava pelos baixos índices, por exemplo, de analfabetismo e homossexualismo da União Soviética... Pois é, já fui meio stalinista.

    E quem fazia a relação entre si mesmo e as conquistas do regime era o próprio Stálin, o autodenominado pai dos povos. Uma pesquisa iconográfica mínima comprova isso.

    Abraço!

    R.

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  8. Oi, Ravel. Dessa experiência do socialismo real, acho que é preciso projetar algo para o futuro: para superar o capitalismo, é preciso pensar nessas experiências passadas.

    O Stálin é fiel escudeiro do Lênin e precisamos criticar é o leninismo.

    Abs!

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  9. Salve, Lucio!

    Vc deve ter razao quanto ao Lenin. Tenho a impressao de que toda a politica do Stalin eh determinada pela teoria do imperialismo. E tenho um amigo que defende a tese de que a Revolucao Russa foi financiada pela Iluminati. Mas nao sei eh o caso. Seja como for, penso exatamente como vc quanto aa experiencia do socialismo real.

    E eh interessante que um post sobre a tragedia do Rio tenha chegado nessa discussao. Acho mesmo que eh o caso de reafirmar a necessidade da opcao: ou barbarie em curso ou (como digo em meu proximo post) alguma outra coisa, para a qual nao sei se o nome socialismo ainda serve.

    Abraco!

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  10. Ravel: socialismo ou barbárie, se tivermos sorte!

    Fiz um post analisando a carta do atirador.

    Abs!

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