VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Augusta














Usando seu belo vestido comprido de seda preta Augusta que me puxa os cabelos
Augusta que urra com a minha boca sob sua saia. Augusta a bela dama de olhos néons e
9 mm preso na meia calça

Somos cobras calçando oxford rastejando nas múltiplas estampas de sua pele pálida
somos André e Gina. Párias de nariz branco e olhos pintados

Augusta que geme enrolada junto ao vicio que queimo constantemente.

Augusta que me batiza bebida que arde garganta e me faz ver Augusta pelos olhos
fluorescentes pulseiras no meu braço que dançam no escuro som dos gritos de
Augusta que nos limpa do canto da boca com língua afiada noite adentro de si.

Augusta que me fuma
Augusta que me cheira
Augusta que me bebe
Augusta que me entende e isso basta.

André

4 comentários:

  1. Victor, quando vc me mandou este poema, confesso que pensei em recusá-lo. Não pela qualidade, que não me julgo capaz de avaliar, embora tenha gostado dele, mas porque ele não é exatamente um exemplo de "poesia crítica" (a não ser que eu o tenha lido na contramão). Mas, enfim, pensei melhor, e considerei que um blog crítico que não se permita o alento de um elogio à boemia não é um blog crítico de verdade, mas um blog tapado. (A algum eventual desavisado, esclareço que isso não é um elogio às drogas. Aliás, como dizia o outro, não vejo Globo, SBT nem Record.)
    Abraço!

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  2. Oi, Victor fiquei feliz com a publicação do Augusta. Acho que o texto vai na contramão dessa vida limpinha, de gente avara que acha que pode viver mil anos se, como diz Guimarães Rosa, se economizar"

    Abraços
    Dani

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  3. Embora não me agrade a boemia, o poema é ótimo. Muito rico na descrição do ambiente "Augusta", tanto que vou me guardar de conhecê-lo durante a noite (risos). Estou fazendo algo similar tentando descrever uma biografia no meu blog, baseada nos locais onde residi.
    Abraço

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  4. Salve, Wesley! Gostei do seu comentário. De minha parte, confesso que no curto período em que frequentei a Augusta, ela reacendeu por algum tempo minha paixão pela boemia. Hoje, a imagem mais viva que guardo dela é péssima. Mais de uma vez, voltando de madrugada para o Crusp, de ônibus, presenciei, ou melhor, senti os "leões de chácara" das boates socando a janela do ônibus para acordar algum trabalhador que cochilava com a cabeça encostada nela. É a raspa ressentida do tacho onde a boemia se cozinha com a exploração social, a degradação moral etc. Mas o poema do Victor, se o li corretamente, é uma espécie de utopia iniciática. Na verdade, ele mesmo me disse que é sobre como gostaria que a Augusta fosse. Nesse sentido, acho que o último verso, o mais banal, é o mais bonito.
    Abraço!

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