Quem teve a sorte, na infância ou na adolescência, de conhecer a coleção Vaga-Lume, da editora Ática, dificilmente hoje não é grato por isso. Ao lado de alguns poucos outros livros inesquecíveis, como A Morada do Anjo da Guarda, da Condessa de Ségur, e Memórias de um Cabo de Vassoura, de Orígenes Lessa, foram os da Vaga-Lume que não só me incutiram o gosto pela leitura como começaram a moldar esse gosto. De todos eles, o meu preferido era O Mistério do Cinco Estrelas, de Marcos Rey. Ainda hoje eu me lembro da sensação de “ser” o Léo, zunindo pelos corredores do Emperor Park Hotel na expectativa de ganhar gordas gorjetas, até o dia em que... bem, os curiosos que leiam o livro. Em seguida, na minha lista de preferências, vinha O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida. Mais pra frente, Meninos sem Pátria, de Luiz Puntel, me marcou muito, a ponto de me despertar a vontade de também começar a escrever. E, de fato, acabei imaginando, repensando e, afinal, mais de duas décadas depois, escrevendo um livrinho de ficção juvenil que deve sair este ano pela Nankin Editorial, e no qual a influência do livro de Puntel (mas também de Os Meninos da Rua Paulo, de Ferenc Molnár) começa no título: Os Meninos da Colina.
Imaginem, então, minha surpresa ao descobrir, numa conversa a propósito de se pôr ou não um sumário nesse livro, que o sócio e diretor de arte da Nankin, meu amigo e parceiro de outras lidas Antônio do Amaral Rocha, havia sido editor de arte da Vaga-Lume em seus anos áureos. Não bastasse isso, Antônio me informou que O Escaravelho do Diabo foi filmado recentemente, e que ele deu uma entrevista para o jornal Diário do Povo, de Fortaleza, quando do lançamento do filme. Entusiasmado, pedi que ele me mandasse essa entrevista, e quando o fez ele me explicou que ela só havia sido publicada parcialmente. É claro que eu não resisti e pedi para publicar o texto completo nestes pobres e abandonados arquivos...
Além do testemunho pessoal sobre o árduo processo de seleção e edição dos livros, o que mais me tocou no depoimento do Antônio (concedido ao jornalista Marcos Sampaio) foi o tributo ao talento de Marcos Rey, cujos livros realmente renderiam ótimos filmes. Quem sabe a filmagem de O Escaravelho não é apenas o início de uma nova série, dessa vez cinematográfica? Bem, fiquem com as palavras do Antônio, porque eu, pra variar, já falei demais.
Quando você trabalhou na série Vaga-Lume? Fale da sua relação com ela...
Imaginem, então, minha surpresa ao descobrir, numa conversa a propósito de se pôr ou não um sumário nesse livro, que o sócio e diretor de arte da Nankin, meu amigo e parceiro de outras lidas Antônio do Amaral Rocha, havia sido editor de arte da Vaga-Lume em seus anos áureos. Não bastasse isso, Antônio me informou que O Escaravelho do Diabo foi filmado recentemente, e que ele deu uma entrevista para o jornal Diário do Povo, de Fortaleza, quando do lançamento do filme. Entusiasmado, pedi que ele me mandasse essa entrevista, e quando o fez ele me explicou que ela só havia sido publicada parcialmente. É claro que eu não resisti e pedi para publicar o texto completo nestes pobres e abandonados arquivos...
Além do testemunho pessoal sobre o árduo processo de seleção e edição dos livros, o que mais me tocou no depoimento do Antônio (concedido ao jornalista Marcos Sampaio) foi o tributo ao talento de Marcos Rey, cujos livros realmente renderiam ótimos filmes. Quem sabe a filmagem de O Escaravelho não é apenas o início de uma nova série, dessa vez cinematográfica? Bem, fiquem com as palavras do Antônio, porque eu, pra variar, já falei demais.
Antônio do Amaral Rocha e Lúcia Machado de Almeida (Belo Horizonte, 1978) |
Quando você trabalhou na série Vaga-Lume? Fale da sua relação com ela...
Fui editor de arte
da Série Vaga-Lume de 1978 a 1987. Não me recordo em quantos
títulos trabalhei, mas foram pelo menos em uns trinta. O trabalho
consistia em roteirizar as ilustrações do livro (junto com o editor
da área), escolher ilustrador (etapa trabalhosa), aprovar os
lay-outs e depois as ilustrações prontas, diagramar o miolo do
livro, editar a capa e diagramar o Suplemento de Trabalho.
Como eram
selecionados os títulos da série?
Os títulos da
Vaga-Lume eram selecionados pelo editor Jiro Takahashi. Mas era uma
coisa meio feita em segredo, visto que existia sempre uma grande
expectativa sobre as escolhas. O editor tinha um corpo de
colaboradores e leitores críticos. O título só chegava a mim
depois de escolhido.
Acredito que a série
ajudou a formar uma geração de leitores. Depois de extinta, como
você vê a importância desses livros para sua época?
Já na época, pelo
sucesso nas adoções escolares, a coleção se configurava um sucesso, e também pelas altas tiragens a preços bem acessíveis. Sei que a
coleção foi responsável pela formação de uma grande geração de
leitores, pois até hoje as pessoas se referem à Vaga-Lume de forma
bastante carinhosa e ela tem sido tema de vários trabalhos de fim de
curso.
A história de O
Escaravelho do Diabo já sugere um bom filme, por ser uma história
de mistério. Tem algum outro título que você acha que renderia um
bom filme?
Tem diversos títulos
que renderiam bons filmes. Acho que todos os da Lúcia Machado de
Almeida e especialmente os de mistério de Marcos Rey, a chamada “trilogia Bixiga”, a saber: O Mistério do Cinco Estrelas, O Rapto
do Garoto de Ouro e Um Cadáver Ouve Rádio.
Você acha que o
filme pode atrair novos olhares para essa
série que foi tão importante para a educação brasileira?
É bem provável que o
filme consiga chamar a atenção novamente para outros títulos da
coleção. Marcos Rey é um dos autores geniais da coleção que
mereceria ser mais conhecido.
Com o fim desta
série, o que você acha que os leitores mais jovens perderam?
Acho que faz falta no
atual mercado brasileiro uma coleção como a Vaga-Lume. Mas também
acho que houve à época um acerto editorial que dificilmente se
repetiria nos dias de hoje. Na década de 80 existia um espaço para
a edição desse tipo de literatura, especialmente essa de cunho de
mistério e policial. Não existia nada no Brasil parecido com isso.
Hoje acho que a garotada não tem o mesmo interesse por causa da
internet, mas posso estar enganado.
Você tem filhos que
certamente leram a série Vaga-lume. Quais foram os títulos
preferidos deles? E qual era o seu título preferido?
Sim, um dos meus
filhos, o Pablo, com 8 anos, era leitor voraz da Série Vaga-Lume.
Lembro-me que quando levava para casa uma edição nova, o Pablo a lia
de um dia para o outro. Ele era fã da “trilogia Bixiga” de Marcos Rey, e de todos os de Lúcia
Machado de Almeida, a trilogia Xisto, mais O Escaravelho do Diabo e
Spharion. Disse-me ele que uma das grandes emoções que ele teve foi
quando o apresentei a Marcos Rey numa Bienal do Livro no ano de 1986.
No meu caso, um dos títulos preferidos da coleção é Sozinha no
Mundo de Marcos Rey (veja a curiosidade abaixo), mas isso não
significa que eu deixe de lado outros títulos, especialmente os de
Lúcia Machado de Almeida, destacando O Caso da Borboleta Atíria.
Você se lembra de alguma curiosidade sobre a coleção?
Dos ilustradores que
colaboraram com a coleção naquela época destaco Milton Rodrigues
Alves que fez Coração de Onça (de Ofélia e Narbal Fontes) e O
Caso da Borboleta Atíria (de Lúcia Machado Almeida). Com esse
título Milton inaugurou a inserção de vinhetas ao longo do texto
além das ilustrações de página inteira. Outros ilustradores:
Mário Cafiero que ilustrou Xisto no Espaço, As Aventuras de Xisto,
Spharion e O Escaravelho do Diabo, todos de Lúcia Machado de Almeida.
Lembro ainda de Jayme Leão que deu vida aos personagens de Marcos
Rey (caso de O Mistério do Cinco Estrelas e O Rapto do Garoto de
Ouro). Teve um título memorável que foi sucesso de vendas, fruto de
um plano do editor Jiro Takahashi e do autor Marcos Rey. Eles
conversaram antes sobre o tema que visava atender ao público juvenil
feminino e nasceu Sozinha no Mundo. Foi o primeiro caso de um livro
cujo tema foi decidido antes que eu já vi acontecer. Marcos era um
craque e em dois ou três meses trouxe o texto pronto. Este foi
ilustrado pelo falecido Marcos Sant'Anna. Teve também casos de
livros com temas proibidos e revolucionários para a época como
Açúcar Amargo, sobre a vida difícil dos cortadores de cana, de
Luiz Puntel.
Não era fácil editar
qualquer título da Série Vaga-Lume. Por ser uma coleção que
gerava grandes expectativas dentro da editora, o trabalho era
bastante exigente e rígido. Não podíamos errar. Além do editor da
área ainda contava com um sub-editor, o editor de arte e o
ilustrador. E o ilustrador tinha que apresentar um lay-out de todas
as ilustrações feitas a partir de um roteiro previamente decidido
pelo editor da área e pelo editor de arte...
Muito bom, Ravel! Também fui leitor da série Vaga Lume. E, inclusive, acho que uma das primeiras peças de teatro que vi na vida foi uma adaptação de O rapto do garoto de ouro. Parabéns pelo seu livro também!
ResponderExcluirLi bastante os livros da coleção vaga-lume quando era moleque e os considero muito importantes para ter tomado gosto pela leitura. Tenho alguns títulos guardados até hoje. A Magia da Árvore Luminosa era um dos meus preferidos.
ResponderExcluirValeu, Fábio e Gabriel! Não conheço esse título, Gabriel, fiquei curioso. Aliás, que título! Os títulos da série eram ótimos!
ResponderExcluirEu amava essa série também. Além daquela Para gostar de ler. Funcionam mesmo. Tomara que Meninos da colina seja assim,um estímulo para os jovens.
ResponderExcluirAbraço