A vertigem foi o de menos. Na verdade, ela é um aviso.
– Prepare sua mente, estou chegando.
Logo a garganta cansada do nó da burocracia e os olhos queimando o que não podia ser dito se levantaram. Sim, se levantaram. O resto fazia parte de outra realidade. Meus pés poderiam dar saudações, não fossem os olhos e a garganta.
Os olhos me mostraram toda a não realidade pelas minhas mãos, braços, pernas e tronco. A escuridão da vertigem de expurgo fez lágrimas desamparadas caírem rasgando. Rasgando. Por que não rasgar no expurgo? O que não rasgar no expurgo?
Mas ali só havia bancos. E eles me diziam que me compreendiam.
Cadê as pessoas nos bancos para me inserir na realidade grotesca, tosca e monótona? Um eco.
– Inayá... Inayá...
O eco traz sua cavalaria. Esperança de branco, controle de vermelho, proteção de verde e alívio de azul.
A cavalaria lutou com a escuridão da vertigem de expurgo. Dominaram a garganta.
– Não consigo me mexer – disse.
– Quer que eu te leve lá pra fora? O que aconteceu? – disse a voz do eco.
– Fui apedrejada pela montanha do coração de alguém.
O eco me levou até outro banco compreensivo. O som insistente da natureza perfurou meus ouvidos. Feito.
Autista, pelo menos eu autista, penso por imagens e sons. Não por palavras. Logo, os passarinhos e o vento me disseram que a escuridão da vertigem de expurgo estava indo. E os olhos que queimavam o que não podia ser dito se abriram em estranheza.
Elda Cunha era o nome do eco. A cavalaria bem que tentou, mas só os pés lhe agradeceram. A única parte do corpo não endurecida pela escuridão da vertigem de expurgo.
Inayá Borba Martini
Belíssimo texto, Inayá! Forte, sensível e sincero até o fundo da alma. Muito obrigado, minha amiga!
ResponderExcluirTexto e nome poéticos: Inayá (Pequena Canoa) poderia chamar-se também Uiara (de Iara), nos fazem navegar em imagens, sensações e estranhamentos.
ResponderExcluirUm texto poético! Lindo! Parabéns, Inayá!
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