VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

sexta-feira, 8 de março de 2013

7 haikães

  
Para Letícia Feitosa 
e as (1)3 furronas: 
Amber, Romy e Renata

1.
Quanto mais conheço os cães
mais lamento
os que não são

2.
“Eu não sou cachorro não
para viver tão humilhado...”
Mas o cão nem pá pro babado

3.
Com medo da luz,
inocente como um cão,
a barata se esconde sob meus pés

4.
“Senta! Deita! Rola!
Finge de morto!”
O cão é um militar sem rancor

5.
O cão
tomando sol
é um animal transcendental

6.
Ser cão é ser livre, ter fome
e amar
sendo ou não amado

7.
O cão a lambe
e ela sorri,
humano sem dono

7 comentários:

  1. Haikães, não haikais... Nem tentem escandir, por favor!

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  2. Salve, Ravel! Qual a forma caonônica (!) dos haikães? Os dois primeiros estão mais para ditados, talvez latidos tradicionais da cultura canina. Os outros cinco parecem cavar mais a fundo no quintal ainda desbravado.
    Não tenho cão, já tive quando menino, mas me impressiona demais a expressão de um cão na janela do carro em movimento.

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  3. Salve, Marco Antonio! Há quanto tempo, hein?! Pois é, o primeiro é mesmo uma variação (na verdade uma falsa inversão) daquele dito atribuído (não sei se corretamente) a da Vinci: "quanto mais conheço os homens, mais admiro os animais" (ou "meu cão"). A única novidade, parece-me, é o reforço empático: não basta admirar, é preciso querer ser, hehe. A segunda, como eu dizia ainda hoje a um amigo, veio pra tapar o buraco da que havia antes, e que era pe´ssima. (Fazia questão do número sete.) Agora, essa expressão de alegria plena do cachorro na janela bem que mereceria um haikãozarrão, hein?... O método, se você não resistir à coceira, é o de toda liberdade possível em limites tão estreitos (como a de um cão condenado a um quintal, um apartamento ou, nos melhores casos, uma fazenda ou uma cidade)...

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  4. Gosto da ideia..., mas sinto falta da síntese. Estão muito explícitos, enunciados e sem espaço para a imaginação..., para a metáfora. Evite os artigos e os sujeitos, deixe que o leitor complete o verbo que veio da imagem. Ah, também não precisa me levar a sério, não tenho cães. Abs.

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  5. Obrigado, Joba! Mas, como disse, é viralatagem pura... cães são um bocado explícitos (em todos os sentidos, rs). Mas todas as críticas e dicas são bem-vindas! Um dia me atrevo a escrever haikais de verdade... :)

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  6. Oxalá chegue o dia em que eu me torne tão humano quanto um cão.
    Ou, então, eu me torne tão cão quanto humano... porém não menos cão.
    Sobretudo mais humano tal a humanidade dos cães, a exemplo de meu poodle Bethoven.

    Faria

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