Mas o segundo sentido é mais positivo. É que essa, digamos, operação substutiva é também uma ótima chance para iniciar a série de postagens sobre álbuns de canções (CDs, LPs, EPs etc.) que planejo há tempos. E fico feliz de começar com os Asteóides, que tive o prazer de conhecer e ver tocando.
Sobre o show no Hangar, só acrescento o seguinte: foi uma das coisas mais legais que presenciei este ano... Quem tiver a chance conferir esses três caras simprões de tudo mas cheios de talento fazendo música, não perca a chance. Formiga na guitarra e Weasel no baixão acústico à frente, e ao fundo Leandro Franco, tocando batera de pé e nos vocais principais, podem não ser os caras mais bonitos do mundo, mas ainda assim é uma bela cena.
Weasel |
Punkabilly surpeende pela qualidade das versões, pelo cuidado com que cada canção original é adaptada à estética do rockabilly e sua sonoridade melódica e pulsante, que obriga o sujeito a dançar ou amargar uma coceira braba no pé; e sem perder o vigor das versões originais, mas sim transformá-lo em outra coisa.
"Pátria amada", o clássico absoluto dos Inocentes que abre o CD, por exemplo, deveria ficar estranha, com sua letra tão ácida adaptada ao ritmo ultradançante e às guitarrinhas ultramelódicas dos Asteróides, mas a verdade é que o efeito é ótimo. O tom épico e invocado do original dá lugar a um tom irônico que pode amortizar a raiva, mas não dilui em nada a acidez.
Na sequência, "Medo", obra-prima que abre o segundo disco do Cólera, está melhor ainda; chega a dar a impressão de que já nasceu um punkabilly. No caso de "Nicotina", dos gaúchos Replicantes, a adequação é ainda mais perfeita, pelo tema da juventude transviada com direito a blusão cheirando a cigarro. O mesmo vale para "Se o tempo voltasse" ("Se o seu pai pudesse escolher, você acha que o filho seria você?"), um dos grandes baratos da brasiliense Detrito Federal.
Claudio Formiga |
O mesmo vale pra "Rock do subúrbio" dos Garotos Podres, onde ao tema da revolta se soma o da consciência e do papel do movimento punk contra "a ordem burguesa que existe na música e na arte". São os momentos do disco em que o espírito do rock'a'billy se funde de forma mais íntegra ao do punk rock. As vozes rascantes de Mau (Garotos Podres) e de Ernandes (Fogo Cruzado) dão lugar a jogos de voz primorosos e até delicados, mas de alguma forma a rebeldia permanece íntegra.
Leandro Franco |
Mas nem por isso Punkabilly deixa de ser um CD e tanto. Sua proposta sonoro-conceitual revitaliza os clássicos regravados; explicita a ingenuidade das letras punk mas nisso mesmo resgata seu vigor, sua revolta e sua alegria primordiais.
As quatro músicas que fecham o trabalho confirmam a essência do punk no rockabilly do Asteróides Trio. O tema da rebeldia jovem em "Teddy, o primeiro da gangue a morrer" e na pesadona "Nancy, vamos para casa" é trabalhado com laivos de poesia marginal; e "Cérebro atrofiado" tematiza a alienação com influência explícita do Cólera.
Um disco, sem exagero, obrigatório pra qualquer punk ou fã de punk rock brasileiro.
Asteróides & Aristocats in Bigfield |
Asteróides Trio no myspace (só músicas próprias):
https://myspace.com/asteroidestrio/music/songs
Site oficial:
www.asteroidestrio.com.br
"Rock de subúrbio" ao vivo:
https://www.youtube.com/watch?v=bILbfr6Iook
Fotos de Nadia Ramone
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