VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Em cima do muro há um poeta em cima do muro


que passa pé frente pé no bambo muro concreto, de asas
abertas jogando de cintura ocidente-oriente
sorte se meu Greenwich fosse apenas bipolar mas
tridimensional ainda é pouco quando distorcido pelo tempo


voltimeia me confundo falando que o outro é melhor que
aquele que sou eu. e não posso ser assim?
me dedicaram certa vez “desregramento do turismo interior” e
quando me desregro me catalogam, nos assim e nos assados.


Agora como Hilst
Depois.
Depois. Depois como Clarice
Nos incluíram nos Fernandos!


E agora José?
Ta todo mundo tisperando i cê aí. Brincando de
anda no alto.
Desce que tu vai cai muleque!
se a queda fosse literal seria menos doída.


O Seu Lírico mando um e-mail
ta lá se divertindo, te deixou na mão.
Já disse pra desce daí!


Mas nós continuamos firmes cambaleando pela rosa dos ventos
agora eu os vejo por cima e reluzem ao sol suas
cabeças desmatadas pelos anos. Todos “gling-glang”.


no geral, então, sou Clarice Hilst de Andrade Pessoa?
sou aquela paria sem catálogo o vírus
que existe e complica.


Sou um profeta-pássaro tentando bater asas
e correr pro vôo. pro povo.
prum dia, quem sabe, virá categoria
pro dia que os mais novos (que verão por cima
minha brilhante clareira) serão incluídos
no que nessa se baseia um poeta em cima do muro. 


Vic Ferraz 

(Com agradecimentos do blog ao autor e à amiga e, estamos certos, futura colaboradora Dani Portela.)

4 comentários:

  1. Para mim, a melhor ode "em cima do muro" foi escrita por John Lennon, ainda nos tempos de beatles, "I am the wallrus". A música é repleta de contradições colocadas face a face, mas sempre repete um refrão legal: "Iam the egg man... They are the Egg man... I an the Wallrus!...".

    Daniel Blamires, Iporá.

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  2. Boa lembrança, Danbla!
    Mas você tinha que ter me dito isso antes de eu publicar o post (rs), porque foi uma dificuldade tremenda achar uma imagem que o ilustrasse de forma um pouco menos óbvia, como ele merecia, e aquelas imagens dos homens-bichos em cima do muro são quase tão loucas quanto o poema do Victor. Rapaz, ainda bem que não sou crítico de poesia...
    E continuo aguardando um post seu!
    Abraços!

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  3. Victor, agora com a poeira mental mais assentada, e na condição de professor universi(o)tário, e também porque estou escrevendo sobre o filme Elefante, de Gus Van Sant, acho que posso dizer(aliás, acabei de dizer isso à Dani) que não posso deixar de ver seu poema como um libelo contra as tiranias "crítico"-pedagógicas. E que se o objetivo é distribuir carapuças, pelo menos uma já achou dono. Espero dizer um dia que ela me cabe menos, mas, bem, enquanto isso vou preparando uma aula com canções dos Los Hermanos pra aliviar o aperto...
    A Dani só me disse agora, e os leitores do blog não sabem que você tem apenas 17 anos, e nem sei se tem alguma importância dizer isso, mas,enfim, talvez tenha, então está dito. Parabéns, mesmo um leigo tapado como eu sente que sua poesia tem vida.
    Parabéns e desculpas, porque cumprimentos são sempre meio boçais...
    Abraço!

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  4. Outra coisa: foi realmente um prazer publicar seu post. Mesmo o gesto simples de procurar a foto e editá-la foi uma pequena aventura, pois até nisso uma tola vaidade pode se esmerar: reduzi as laterais para sublinhar as sombras. Espero que tenha algo a ver!

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