VIVENCIAL

Viver o cotidiano não exime da tarefa de pensá-lo, como não o faz a prática de experienciar a cultura em suas formas mais acabadas, inclusive naquilo em que nelas se imiscui a chamada vida comum. A proposta deste blog é constituir um espaço de intersecção entre esses campos vivenciais para pessoas que, como nós, têm na reflexão crítica um imperativo para a existência digna do corpo e do espírito – individual e social.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Joãzinho chega à Universidade

João Calvino tentando entender o
tema da redação do Enem 2010
Pra não dizerem que eu não cumpro minhas promessas (vejam este post já antigo)...

Depois de três vestibulares, Joãozinho finalmente consegue passar pra Letras na UNCAFUNJU (Universidade dos Cafundós dos Judas, privada, é claro). No primeiro dia de aula, a professora, digo, o professor explica aos alunos a diferença entre prosa e verso. 

— Verso, diz ele, é quando existe uma rima. Por exemplo: "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá... As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá". Viram? "Sabiá" rimou com "lá"! 

— Ahhhhhhh..., exclamam os alunos, mostrando que entenderam.

— Prosa é quando não há rima. Por exemplo: "É preciso ter confiança na capacidade que cada pessoa tem de ensinar a si mesma". Assimilaram?

— Assimilamos!!!

O professor pega a chamada e vai direto pro fim da lista:

— Zequinha, me dê um exemplo de verso!

— "Pela estrada afora eu vou bem sozinha, levar esses doces para a vovozinha."

— Muito bem, diz o professor, orgulhoso. "Sozinha" rimou com "vovozinha". Vê-se bem que você não está aqui por acaso. Agora o Juquinha. Me dê um exemplo de prosa. 

— "O trabalho dignifica o homem."

— Muito bem, Juquinha. Sem rima é prosa. Parabéns! Isso mostra por que você foi tão bem no Enem. Ops, rimei!

Percebendo que Joãozinho (já famoso) estava "alugando" uma colega lá no fundo, o professor o chama com rispidez:

— Joãozinho!

O moleque, digo, rapaz, se levanta, desafiando:

— Pois não, 'fessor! Quer em prosa ou em verso?

— Em verso!

— Lá vem o canguru, com uma linda flor no c...

— Pode parar, Joãozinho!!! Essa rima vulgar eu não aceito!

E o Joãozinho, num átimo de segundo:

— Lá vem o canguru com uma flor na bochecha, que no cu o professor não deixa!

Este post é dedicado ao Omar Rodovalho, um cara legal praca...

Joãozinho quando ainda sonhava em fazer Artes

Bonus track:

5 comentários:

  1. Valeu, brother! Gosto do Joãozinho! Ele está sempre aprontando alguma. E olha que os olhos deste garoto só se concentra nos lugares proibidos. É por isso que rende muitas histórias! Grande abraço, Ravel!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, mano Jonan! Seus contos com certeza foram lidos pelo Joãzinho, e ajudaram a inspirá-lo. Aproveito para recomendá-los, e também o seu ótimo blog, aos meus escassos mas fieis leitores: www-arremedo-de-aguia.blogspot.com
    Grande abraço!

    ResponderExcluir
  3. Recebi o e-mail abaixo e respondi-o nos termos que se seguem. Agradeço mais uma vez à colega que o enviou:

    Amigos,

    Sem falsos moralismos, lanço uma pergunta: será que este tipo de piadinha, tentando ser insurgente, de fato nos ajuda a pensar em algo mais profundo em torno da nossa Educação, já bastante massacrada?

    Desde já desculpo-me pela minha(talvez) impertinência. Mas...

    Que tal conteúdos mais elevados?

    Grande abraço da

    Carlota Pires

    ..................

    Prezada Carlota:

    Obrigado por sua mensagem. Como ela foi enviada diretamente para a pgletras, tomei a liberdade de publicá-la também no blog.

    Como autor do post, fico feliz por ele ter despertado ao menos uma reação de indignação, embora esse não seja seu único objetivo.

    Por outro lado, o blog tem conteúdos mais sérios (espero que tenha lido, por exemplo, o post a que remete o do Joãzinho), e, além disso, o mau preparo, o preferencialismo, a indisposição para o diálogo são problemas sérios, que afligem os corpos docentes (e não apenas discentes) de nossas instituições de ensino.

    Se me permito brincar com isso, não é para ofender a Educação como instituição, ou os professores como categoria profissional ou alguém em particular, mas porque acho que, pelo menos de vez em quando, rir é melhor que chorar.

    Obrigado e um abraço,

    Ravel.

    ResponderExcluir
  4. Ah, sim (quanto aos "problemas sérios"), tudo aquilo e o falso moralismo, é claro. E muito mais...

    ResponderExcluir
  5. Continuando (e, acho, encerrando) o pequeno debate com a colega Carlota:

    É verdade, é verdade, se bem que também é verdade que "é preciso um bocado de tristeza"... Senão a gente só se engana, né?
    Obrigado pelas reflexões e pelo haikai, que também postei nos comentários
    O blog está aberto a contribuições, inclusive suas.
    Abraços,
    Ravel.

    Caro Ravel,saudações!

    Sim, em todos os momentos da vida rir é melhor do que chorar, e como diz o famoso samba de Vinícius de Moraes: “é melhor ser alegre que ser triste/ alegria é a melhor coisa que existe...”

    Sem dúvida, penso que a principal raiz do problema de nossas instituições de ensino é o despreparo, má formação dos nossos profissionais, sejam eles em que esfera encontrem-se. Então isto tudo tem um nefasto efeito cascata, porque o mau profissional de hoje certamente será o péssimo profissional de amanhã.

    Eu defendo com unhas, dentes, paus e pedras que neste País haja de verdade um Projeto de Leitura sério, em que os profissionais, devidamente preparados, sejam capazes de operar em seus alunos, desde o ensino infantil, não apenas o gosto pela leitura, mas, sobretudo, aprender a interpretar aquilo que se lê. Foucault nos ensina, nos seus “Ditos e escritos” que as ações humanas são atos estéticos, pois os atos de pensar, comunicar-se, e realizar as ações no plano concreto da vida, conduz o ser humano às trocas simbólicas, que estão em contínuo processo de interpretação.

    No entanto, a velha e mesquinha política do “quanto pior, melhor” relega qualquer potencial de crescimento por parte dos nossos Joãozinhos, Juquinhas e Zezinhos, à vala comum de um saber pouco construtivo – sem querer fazer alusão ao Construtivismo, o qual é falho, na minha concepção.

    Então, devemos apontar soluções sistematicamente para se chegar a um bom termo educacional, especialmente no que se refere a questão da leitura/interpretação. Ler é escrever, é pensar, é interpretar o mundo que nos cerca. Ler e interpretar signfica deter o Conhecimento, seja ele científico, técnico, humano, ou político.

    Assim, sendo, proponho que troquemos as “piadinhas” cheias de palavras pouco construtivas por fábulas, que são eternas porque revelam o que Paul Ricouer chama de “fundo opaco do viver”!

    Por enquanto, fiquem com um haicai que faz parte do meu livro que será lançado aqui no Rio, em breve!

    Grande abraço cheio de “boleros” da

    Carlota Pires

    Lual

    Na boca da noite,
    Café com estrelas.
    Ferve o leite da lua.

    ***

    É verdade, é verdade, se bem que também é verdade que "é preciso um bocado de tristeza"... Senão a gente só se engana, né?
    Obrigado pelas reflexões e pelo haikai, que também postei nos comentários
    O blog está aberto a contribuições, inclusive suas.
    Abraços,
    Ravel.

    Um p.s que faltou em meu e-mail de resposta: acho que o Construtivismo (o de Paulo Freire, quero dizer) está além dos Joõezinhos e Juquinhas, mas que também estes estão além do Construtivismo...

    ResponderExcluir